15 outubro, 2012

Sorgo - Solos

O cultivo do sorgo, assim como qualquer outra cultura inserida num sistema de rotação e/ou sucessão, necessita de condições mínimas de solo para que a cultura se estabeleça e se desenvolva normalmente. Especialmente no caso da safrinha é importante manejar adequadamente o solo para proporcionar o rápido estabelecimento da segunda safra, uma vez que essa se desenvolverá em condições menos favoráveis especialmente quanto à umidade disponível no solo. Com este enfoque, o sistema de plantio direto (SPD) apresenta vantagens comparativas aos métodos tradicionais de preparo do solo, que envolvem aração e gradagens, devido ao ganho de tempo que se consegue na implantação da cultura em sucessão, com menor consumo de energia e, a maior infiltração da água associado a menor perda por evaporação que resulta em maior conservação de umidade.

Manejo do solo para o cultivo do sorgo

A área cultivada com sorgo deu um salto extraordinário à partir do inicio dos anos 90. O Centro Oeste é a principal região de cultivo de sorgo granífero, enquanto o Rio Grande do Sul e Minas Gerais lideram a área de sorgos forrageiros. O sorgo granífero é cultivado basicamente sob 3 sistemas de produção no Brasil: no Rio Grande do Sul planta-se sorgo na primavera e colhe-se no outono. No Brasil Central a semeadura é feita em sucessão às culturas de verão, principalmente a soja. E no Nordeste a cultura é plantado na estação das chuvas ou de "inverno".

Esse tópico trata basicamente do sorgo plantado após a soja precoce, (ou sorgo safrinha) portanto o manejo do solo deve ser considerado levando em consideração essa sucessão de culturas e não somente o sorgo. O sorgo “safrinha” é definido como sorgo de sequeiro cultivado extemporaneamente, de fevereiro a abril, quase sempre depois da soja precoce, na região Centro-Sul brasileira, envolvendo basicamente os estados de SP, GO, MT, MS, DF, MG e BA A implantação do sorgo safrinha no final do período chuvoso deixa o agricultor na expectativa de ocorrência de déficit hídrico a partir desse período.

Assim, toda estratégia de manejo do solo deve levar em consideração propiciar maior quantidade de água disponível para as plantas. Nesse caso, sempre que possível deve-se optar pelo sistema de plantio direto, pois oferece maior rapidez nas operações, principalmente no plantio realizado simultaneamente à colheita, permitindo o plantio o mais cedo possível. Além disso, um sistema de plantio direto, com adequada cobertura da superfície do solo, permitirá o aumento da infiltração da água no solo e a redução da evaporação. Em algumas áreas de plantio direto, já se constatou aumento do teor de matéria orgânica do solo, afetando a curva de retenção de umidade e aumentando ainda mais o teor de umidade para as plantas.

Embora exista uma grande diversidade de preparo de áreas para o cultivo do sorgo na segunda safra, predomina o emprego do plantio direto permanente (PDP) ou temporário (PDT), visando antecipar a implantação do sorgo “safrinha”. No preparo direto temporário realiza-se a semeadura direta do sorgo “safrinha” e o preparo convencional para a soja. Nesse caso, no verão, tem sido freqüente o preparo com grades. Em áreas com grande infestação de plantas daninhas, no momento da colheita da soja, e quando o agricultor não dispõe de máquina para semeadura direta, utiliza-se o preparo com grades no outono-inverno. Uma desvantagem da grade aradora é que provoca grande pulverização do solo. Alem disso, o uso da grade continuamente no verão e na safrinha por anos sucessivos pode provocar a formação do "pé-de-grade", uma camada compactada logo abaixo da profundidade de corte da grade, a 10-15 cm. Essa camada reduz a infiltração de água no solo, o que, por sua vez, irá favorecer maior escorrimento superficial e, consequentemente a erosão do solo e a redução da produtividade do sorgo safrinha.

Em preparo convencional, o revolvimento da camada superficial do solo tem por objetivo básico otimizar as condições de germinação, emergência e o estabelecimento das plântulas, entretanto também deve ser visto como um sistema que deverá aumentar a infiltração de água, de modo a reduzir a enxurrada e a erosão a um mínimo tolerável. Deve ser levado em consideração que em áreas onde as explorações agrícolas são mais intensivas, a exemplo do plantio da safrinha de sorgo após a colheita da soja, em que o solo é mais intensamente trabalhado, a probabilidade de acelerar sua degradação devido à aração e gradagem, aumentando os problemas de compactação, erosão e redução de sua produtividade, é bem maior. Além disto, é muito importante a redução do tempo entre a colheita da cultura de verão e o plantio do sorgo na sucessão, o que poderá afetar a decisão sobre qual sistema de preparo do solo deverá ser empregado. Não é demais lembrar que as gradagens destorroadoras e de nivelamento diminuem a rugosidade e pulverizam o solo, favorecendo a erosão, portanto, deve haver critérios na sua utilização evitando excessos. O caso do sorgo é típico em que, com freqüência, a recomendação técnica explicita a necessidade de destorroar bem o solo para o plantio, devido ao menor tamanho da semente. Nestes casos, de utilização excessiva de gradagens, provoca uma pulverização do solo na camada superficial, aumentando os riscos de ocorrencai de compactação (pé-de arado ou pé-de-grade) e de erosão.

Com o propósito de minimizar o impacto negativo do preparo do solo deve-se sempre ter em mente que as operações devem contemplar, de uma maneira harmoniosa, não somente o solo mas, também, as suas interações com a água, com vistas ao planejamento integrado visando a sustentabilidade da atividade. Neste sentido a área agrícola deve ser cuidadosamente planejada.

Em função das condições locais de clima e solo elabora-se o planejamento conservacionista da glebas que deverá ser dotado de sistema de terraceamento, em nível ou com gradiente e canais escoadouros. Conforme o tipo de solo e a declividade os terraços poderão ser de base larga (declividade menor que 12%) ou base estreita (declividade até 18%). Acima desta declividade os riscos de degradação do solo aumentam, não sendo recomendado o seu uso com culturas anuais.Uma das maneiras de reduzir a compactação é alternar a profundidade de preparo do solo.

É importante também atentar para as condições de umidade do terreno por ocasião de seu preparo. O ponto de umidade ideal é aquele em que o trator opera com o mínimo esforço, produzindo os melhores resultados na execução do serviço. Com o solo muito úmido aumentam os problemas de compactação. Há maior adesão da terra nos implementos, chegando a impedir a operação. Em solo muito seco é preciso um número maior de passadas de grade para quebrar os torrões exigindo maior consumo de combustível. Com isso, o custo de produção fica maior e o solo pulverizado.

A eficiência do SPD tem sido atribuída ao estabelecimento de uma camada de cobertura do solo com resíduos vegetais, que seja persistente ao longo do tempo e que cubra a maior parte da superfície do solo. A cobertura morta atua na proteção contra o impacto das gotas de chuva e da ação de ventos, reduzindo a erosão, protegendo o solo contra o efeito de raios solares, reduzindo a evaporação, a temperatura do solo e a amplitude térmica e hídrica, incorporando matéria orgânica ao solo, necessária a uma atividade microbiana intensa e permitindo maior reciclagem de nutrientes. Neste aspecto a relação C:N da espécie utilizada para cobertura do solo é de grande importância, pois reflete a velocidade com que a decomposição do material pode se processar. Neste particular a cultura do sorgo ocupa posição de destaque pois a sua palhada possui uma relação C:N elevada o que concorre para a sua persistência na superfície do solo. Soma-se a isto, ainda, a possibilidade de adoção de menores espaçamentos para o sorgo o que é decisivo na taxa de cobertura do solo com plantas em crescimento conferindo-lhe maior proteção contra a erosão e, também, com um sistema radicular mais bem distribuído possibilitando explorar intensamente maior volume de solo, reciclando mais nutrientes e, depois, formando uma rede de canalículos por toda a extensão da camada superficial do solo.

São reconhecidas duas fases distintas no processo de adoção do SPD com relação a formação de palhada sobre o solo. A primeira delas, de estabelecimento, que dura até que se consiga uma quantidade adequada de palha sobre a superfície do solo. A duração desta fase é variável conforme a região e normalmente é conseguida depois de alguns anos de adoção do sistema. Espécies como o sorgo devem ser incluídas nesta fase devido à palhada mais persistente. A outra fase é a de manutenção do sistema após ter-se estabelecido a cobertura do solo com palha.

O sistema somente se estabilizará quando estiver instalado um esquema de rotação de culturas. A combinação de espécies com diferentes exigências nutricionais, produção de fitomassa e sistema radicular torna o sistema mais eficiente, além de facilitar o controle integrado de pragas, doenças e plantas daninhas. O sorgo é uma cultura que apresenta algumas vantagens comparativas especialmente em regiões onde a distribuição das chuvas é errática. Ele apresenta um sistema radicular profundo que além da reciclagem de nutrientes confere maior tolerância ao déficit hídrico possibilitando ainda, quando da sua ocorrência, uma rápida recuperação do crescimento. Adicionalmente ele apresenta rebrota que, dentre outros usos, poderá contribuir no aporte de material vegetal para a formação de palhada.

Por se tratar de um sistema complexo, o plantio direto exige o envolvimento de várias culturas e, muitas vezes, uma associação de agricultura e pecuária onde, mais uma vez, o sorgo aparece como ótima opção devido aos seus usos múltiplos na pecuária. Recentemente a Embrapa lançou uma tecnologia, o Sistema Santa Fé, onde o sorgo, juntamente com o milho, são as melhores opções para cultivo associado às braquiárias em plantio direto com vistas à produção de grãos, forragem conservada (silagem ou feno), pasto para a entressafra e palhada para o plantio direto.

A habilidade das plantas em explorar o solo, em busca de fatores de crescimento, depende grandemente da distribuição de raízes no perfil do solo, que por sua vez, são dependentes das condições físicas e químicas, as quais, são passíveis de alterações em função do manejo aplicado. Uma destas alterações de maior impacto é a compactação. Ela aparece geralmente abaixo da camada revolvida pela ação dos implementos de preparo do solo, especialmente arado de discos e grades, ou na superfície devido ao tráfego.

Em situações onde a compactação ainda não é muito intensa é possível contornar o problema modificando o sistema de manejo de solo e de rotação de culturas incluindo plantas de sistema radicular mais vigoroso, capaz de penetrar em solos que ofereçam maior resistência à penetração. Neste aspecto o sorgo apresenta grande potencial como cultura recuperadora de solo pois possui um sistema radicular abundante com capacidade de crescer em profundidade, especialmente devido às raízes de menor diâmetro. Como a taxa de crescimento de raízes se dá primeiramente devido à resistência oferecida pelo solo à penetração do que pela pressão que elas possam exercer, as raízes de menor calibre como as do sorgo certamente encontram menor resistência ao aprofundamento no solo em relação àquelas de maior diâmetro, por exemplo, as da soja. Isto é de importância fundamental pois os canalículos deixados após a sua decomposição passam a funcionar como verdadeiras galerias para a penetração de raízes mais grossas, o que de certa forma facilita a diversificação de espécies, aumentando as possibilidades para a rotação de culturas.

Caso a compactação seja mais intensa o rompimento da camada deve ser feito com implemento que alcance a profundidade imediatamente abaixo da zona compactada. É importante salientar que os equipamentos de discos são ineficientes nessa operação.

Entretanto, para que os maiores benefícios advindos do manejo do solo sejam alcançados é necessário que haja um planejamento prévio. Os equipamentos e as máquinas disponíveis também tem de ser levados em consideração para a tomada de decisão de como fazer o preparo do solo, os tratos culturais, a colheita e de como manejar os resíduos da cultura visando a próxima safra. A recomendação é a de que aração e gradagens sejam eliminadas como métodos de manejo do solo devido ao impacto negativo sobre o solo e ao meio ambiente. É extremamente desejável planejar as atividades com vistas à introdução de sistema SPD e de integração lavoura-pecuária que possibilitam o uso intensivo e sustentável do recurso solo. Somente com a tomada de consciência de que todas estas etapas são igualmente importantes e que o produto final, a produtividade, vai refletir aquela etapa que for executada com pior qualidade é que se conseguirá eficiência no manejo do solo.

Em outras palavras, em nada adiantará alta eficiência nas atividades se, em apenas uma delas, houver descuido. Esta falha vai nivelar por baixo a produtividade, com graves prejuízos ao produtor. Disto se conclui que o manejo do solo deve contemplar, de maneira harmoniosa, atividades relacionadas ao solo, às plantas e aos seus resíduos visando maximização da produtividade sem perder de vista os seus efeitos no manejo e na conservação do solo e da água.

Fonte: Sistemas de Produção EMBRAPA