Há cerca de dez anos, a disseminação dos nematóides de lesões (Pratylenchus brachyurus) sob o solo mato-grossense vem preocupando pesquisadores e impondo perdas diretas de até 30% às lavouras, especialmente às de soja, cujo valor econômico do grão é o maior propulsor da economia local. A expansão da doença coincide com a intensificação da dobradinha anual: soja sucedida do milho em uma mesma temporada.
Os nematóides, mesmo observados nas culturas do milho e do algodão – que junto à soja respondem por mais de 90% do Valor Bruto da Produção (VBP), receita da porteira para dentro – foram detectados em 96% de áreas amostradas em todas as regiões do Estado. O parasita de lesão, invisível ao olho nu e com sintomas que mascaram outras pragas e doenças, seguem sem um controle químico de combate específico e sem materiais resistentes (sementes) que junto a um conjunto de práticas possa minimizar os prejuízos anuais. “Há poucos anos este verme de lesão era secundário, nos preocupávamos mais com os nematoides de galha e de cisto”, adverte a pesquisadora da Embrapa Agrossilvipastoril, de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá), Valéria de Oliveira Faleiro.
Como conta, neste intervalo de tempo, surgiram materiais fruto do melhoramento genético que ajudam no manejo de lavouras com parasitas identificados como de galha e de cisto. O de galha ocorre em todas as grandes culturas produzidas em Mato Grosso e assim como o de lesão. O de cisto é específico da sojicultura, aliás, o de cisto não é um parasita nativo, foi introduzido ao longo dos anos. “E mesmo assim, é possível conviver com ele no solo”, frisa. O manejo dos fitonematóides dominou as discussões do I Workshop de Nematologia, promovido pela Embrapa Agrossilvipastoril, no início do mês.
A falta de rotação de culturas e de conhecimento do produtor sobre a área que planta é fator que leva aos danos e à ampliação da população de parasitas. “Temos no Estado uma sucessão de culturas. Sai a soja e vem o milho. Rotação é trocar de espécies, neste caso, a recomendação seria a crotalária que entre outros benefícios como o controle dos vermes, reestrutura o solo e aumenta a nitrogenação. Mas sabemos que sem valor de mercado, como o da soja, por exemplo, fica difícil de o produtor cultivá-la”. Como explica Valéria, o primeiro passo para se conviver com esses organismo vivos - que fazem parte do solo - é ter uma análise do solo, rotacionar culturas e manter um adequado manejo com matérias orgânicas que favoreçam a nutrição das plantas e que promova os naturais inimigos dos nematoides como fungos e bactérias. “Tem de haver um conjunto de ações. Evitar que o verme chegue a outras áreas lavando pneus de tratores e lâminas, o uso de sementes sem certificação e que o solo tenha alto índice de acidez, enquanto a pesquisa busca alternativas de controle”.
Fonte: Diário de Cuiabá