O Paraná recuperou perdas de produção provocadas pela severa estiagem entre o fim do ano passado e início deste ano e se prepara colher, na safra 2011/12, de 31,5 a 31,8 milhões de toneladas de grãos. Esse valor corresponde a ligeira queda de 0,75% em relação à safra anterior (2010/11). O resultado abrange as três safras de grãos cultivadas no Estado, entre a produção de verão, outono e inverno, e consta no relatório de julho, divulgado nesta segunda-feira (30) pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento.
De acordo com o diretor do Deral, Francisco Simioni, a partir da segunda safra houve recuperação na produção e nos preços praticados ao produtor. O bom desempenho da segunda safra recuperou as perdas de 21% na produção de grãos de verão da safra 11/12, prejudicada pela seca principalmente nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná.
MILHO – A segunda safra de milho compensou a quebra na produção com a colheita de 10,5 milhões de toneladas, volume 65% superior ao ano anterior. O aumento na segunda safra de milho ocorreu em função do crescimento de 20% na área plantada neste ano, que passou de 1,7 para 2 milhões de hectares. Geadas ocorridas na safra 2010/11 também provocaram queda na produção daquele ano.
“Os produtores terão ganho-extra com o aquecimento nas cotações do grão por causa da quebra da safra de milho nos Estados Unidos”, ressaltou Simioni. Os preços pagos ao produtor estão em torno de R$ 25,00 a saca, na média, cerca de 6% acima das cotações praticadas na safra anterior, que já estavam elevadas, em torno de R$ 24,00 a saca. “Precisamos lembrar que na safra 2010/11 houve quebra de produção e a escassez do grão no mercado, o que justifica o aumento nos preços. Mas este ano estamos colhendo uma supersafra de milho o que não justificaria os preços recordes praticados no mercado de milho atualmente, não fosse a quebra da safra norte-americana”, explicou.
Técnicos do Deral observam que apesar das boas condições de produção e de comercialização, o produtor pode ter elevação nos custos de produção de milho com a aplicação de fungicidas para eliminar doenças.
“De maneira geral o Paraná colherá boa safra de milho e as lavouras estão praticamente ‘salvas’ do risco de geadas mais forte, mas os produtores estão enfrentando adversidades desde junho, devido ao excesso de chuvas, que provocou incidência de doenças fúngicas como a Giberela, Diplodia e Antracnose”, comentou a engenheira agrônoma do Deral, Margorete Demarchi.
SOJA – Os produtores de soja também estão satisfeitos com o desempenho da cultura e com a sinalização do mercado externo, que aponta a manutenção de preços sustentáveis para a próxima safra. “A tendência é de crescimento na área plantada no Estado”, disse Simioni. A safra 2011/12 também foi prejudicada pela estiagem que castigou o Estado desde o fim do ano passado até meados de fevereiro deste ano, quando houve quebra de 23,7% na produção do grão.
Mas esse prejuízo foi compensado por um revés no mercado de grãos internacional, que está beneficiando os produtores brasileiros. Os Estados Unidos estão enfrentando a maior seca desde 1956, que provocou a quebra de 14 milhões de toneladas de soja da safra de grãos 2012/13 naquele País. A demanda pela commodity continua em alta, principalmente por parte da China. “Em função desses fatores, a saca de soja se valorizou em 75% e o preço pago ao produtor atingiu R$ 70,26 a saca, em média”, explicou o coordenador da área de Conjuntura Agropecuária do Deral, Marcelo Garrido.
FEIJÃO – Por outro lado, produtos como feijão e trigo apresentam queda na produção na safra 2011/12. As três safras de feijão cultivadas no Paraná devem totalizar 668,9 mil toneladas, 21% a menos que no ano anterior. Os produtores estavam desestimulados com os preços do feijão no mercado, principalmente na primeira safra, que teve queda de 36% na produção (de 533.603 toneladas na safra 2010/11 para 341.602 toneladas).
Em contrapartida, em função da reação nos preços do feijão no mercado, os produtores paranaenses aumentaram a área cultivada com feijão da segunda safra em 31%, passando de 170.992 para 224.041 hectares, que proporcionaram produção de 293.326 toneladas. “Nessa safra, os preços reagiram, mas a qualidade do produto caiu, por causa das chuvas na colheita”, explicou o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Salvador, do Deral.
TRIGO – No relatório, o Deral confirmou a área plantada com trigo no Paraná, com 764,8 mil hectares, uma das menores dos últimos 10 anos. Isso significa que a produção de trigo no Paraná, que era líder no ranking nacional até dois anos atrás, recuou para patamar semelhante à área plantada em 2002, quando a cultura ocupou 900 mil hectares no Estado. Simioni explicou que naquele ano houve grande desestímulo dos produtores com a produção de trigo por causa do acordo dos blocos do Mercosul, que privilegiava a compra da produção argentina.
Este ano, o Paraná deverá colher pouco mais de 2 milhões de toneladas de trigo, queda de 10% em relação à produção anterior, que já vinha refletindo o desestímulo dos produtores. A preocupação da Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) é que essa queda drástica prejudique os produtores daqui para frente. Isso porque a prática do plantio de apenas duas culturas (milho e soja) de forma sucessiva poderá, a curto e médio prazo, alterar o sistema de rotação de culturas que o Paraná tradicionalmente vinha realizando.
FERTILIDADE – De acordo com o diretor do Deral, a Secretaria vem sendo alertada pelos seus órgãos de pesquisa e de assistência técnica com a possibilidade de prejuízos na fertilidade do solo e o aumento da incidência de doenças nas lavouras por causa da falta de rotação de culturas.
Esse e outros assuntos relacionados aos fatores políticos e comerciais que interferem na cultura do trigo são debatidos durante a VI Reunião da Comissão Nacional de Trigo, que acontece em Londrina, a partir desta segunda (30) até quinta-feira (2), na Sociedade Rural do Paraná.
Fonte: Agência Estadual de Notícias - Paraná